
ARTE
SACRA
Arte sacra e arte religiosa se diferenciam da seguinte maneira: arte sacra é aquela que pode ser utilizada num serviço religioso, obedecendo, portanto, a regras formais, estéticas, semânticas, linguísticas que a tornem apropriada para este uso. Já arte religiosa é mais livre, pois não servirá ao serviço, tratando-se mais de arte com inspiração em temáticas ou formas religiosas. Vê-se, assim, que a arte sacra está contida no âmbito da arte religiosa, ainda que nem toda arte religiosa possa ser considerada sacra.
EU, FLAVIA VIRGINIA, ARTISTA SACRA_
Há um tempo, eu estava mostrando minhas primeiras músicas pras minhas filhas – aquelas que fiz com 14, 16 anos – e me surpreendi ao ver que em muitas delas a temática central era Deus. Em várias.
Parece que, sem que eu tenha atentado para isso de maneira formal, Deus
ocupou sempre um lugar imenso no meu imaginário e, muito embora seja talvez óbvio para quem vê de fora, visto que vim traçando um caminho religioso claro, não o era pra mim e o reencontro com essas canções primevas foi vivido por mim com espanto – mas também com alegria, como se tudo estivesse, também sob esta perspectiva, justificado.
É comum sermos lentos em auto-compreensão. Eu demorei décadas para aceitar/conseguir decodificar minha estrada como consigo fazer hoje: sou uma artista sacra. Claro, não fiquei parada nisso sozinha, nem sequer encontrava um nome. Não somos tão bons, parece, em classificar direito o âmbito religioso, sacerdotal, espiritual. Então, eu também não era. Mas aí encontrei esse termo e finalmente a tão esperada bigorna caiu na minha cabeça, leve como uma pluma.
E adorei saber-me assim, artista sacra, canto e componho para Deus, #prontofaleitôleve.
MEU OFÍCIO_
Depois de passar toda a infância e a adolescência colecionando orações, lendo sobre religião, visitando os templos e sacerdotes que caíam no meu colo, fui chamada pelo judaísmo e me converti aos 22 anos. Todas as coisas da vida adulta eu vivi ali: casamento, morte, profissão, filho e ofício, que é como entendo hoje o que significa cantar numa sinagoga. Comecei a compor também música sacra em 2004.
A figura do cantor litúrgico é central na liturgia religiosa judaica. Aas riquíssimas tradições musicais que conduzem “para cima” os textos escolhidos pelos nossos ancestrais perfazem modos musicais, em seu conjunto chamados nusach |נוסח|.
A meu ver, a mistura que se dá quando novas vozes cantam as melodias tradicionais fazem com que o serviço religioso do judaísmo seja uma espécie de árvore, com suas muito ricas raízes que buscam a perpetuação por meio de nós, oficiantes religiosos. Eu me sinto verdadeiramente honrada de fazer parte deste ofício tão espetacular: unir Deus e pessoas por meio do "desejo de Deus" que nós, humanos, sentimos. Considero isso muito, muito lindo e rezo e estudo diariamente para estar à altura da tarefa.