Artigos
Agendas da Falsa Consciência
Revista
August 17, 2014
De que modo adquirimos leitura crítica ao longo da vida? Os caminhos são muitos, mas vamos destacar aqui apenas dois, os quais muitas vezes se entrelaçam: ou a partir da mídia, tanto a de massa (tv, rádio, jornais e revistas), quanto pela via da internet; ou o conhecimento formalizado através do ensino. Este pode ser dar em níveis distintos: é possível estudar apenas para passar de ano, para se preparar para a carreira escolhida ou ainda para trocar ideias e ampliar as próprias.
La Militarización del Saber
Revista
April 3, 2012
Hay ahora en la Universidad de São Paulo carteles con la foto del ojo de un perro y las palabras "el abandono de animales es crimen", a los cuales complementa una estampilla que dice "estamos de ojo". Hay ahora en la Universidad de São Paulo torniquetes en todos lados, a veces como forma de guardar la plaza para los profesores, otras en la entrada de los distintos departamentos. A los domingos y feriados, los guardas se ponen en la portada principal -la única abierta- filtrando el pasaje de los ciudadanos a ese espacio que sería público, no se comprende bien por qué criterios.
A (Re)Invenção do Negro – Movimentando a História
Revista
November 9, 2010
O início do século XXI baliza, para a população afrodescendente do Brasil, alguns avanços em direção à liberdade. A Faculdade Zumbi dos Palmares, iniciando suas atividades em 2004, é um marco da matriz educacional, assim como as leis sancionadas neste Julho de 2010 em prol da ampliação do pensamento inclusivo o é na matriz sócio-política.
Bush É um Acerto Só
Jornal
January 27, 2007
Se tem uma coisa que eu não entendo em nós é essa mania estranha de só conseguirmos fazer leituras óbvias quando o óbvio é a única coisa que não cabe. Vem-me à mente a escrita da esquerda para a direita de Leonardo da Vinci, que levou anos sendo considerada um código indecifrável, até que alguém pegou um espelho e desvendou um mistério nem tão grande assim.
Eu Retrospecto, Tu Retrospectas
Jornal
December 30, 2006
Não sei, não, mas este me parece ter sido o ano mais ocupado dos últimos tempos. Tivemos uma avalanche de eventos loucos em todo o planeta, nem imagino como será possível prosseguir assim. Capaz que a Terra venha a desistir de continuar seu caminho normal, como quem diz “ai, preciso dar um tempo”. Se fosse eu, tiraria, sim, um descanso. Assim como está, não dá para ficar.
Morre Pinochet, Agoniza Fidel: o Outono dos Patriarcas
Jornal
December 16, 2006
...mas não por ter cabelos brancos que cabelos brancos não dizem sobre sabedoria generosidade humildade aquela compaixão que se espera nos olhos nada disso se diz de cabelos brancos de mãos trémulas de olhar perdido no espaço onde antes ficava o futuro e agora só mora o passado e é quase sempre para as partes mais roxas dele que se olha aquelas mesmo que não se vão consertar aquelas que não voltam aquelas em ponta de faca aquelas de ferro em brasa aquelas que não entendemos antes e nem compreendemos hoje não porque nos falte o tutano mas porque compreender agora é até injusto é até solidão é até escárnio é até escalpe
Fumar ou Não Fumar, Eis a Questão
Jornal
December 9, 2006
Não sou lá muito idosa, mas, conhecendo o Brasil e Angola como conheço, creio poder dizer sem medo de errar que já presenciei acontecimentos bizarros. Há, certamente, quem tenha visto piores, mas, que eu já vi coisas estapafúrdias, ah, isso, já!
Lili, a Saga
Jornal
December 2, 2006
Tenho aqui em São Paulo uma amiga que possui uma cadela, uma rafeira carinhosamente chamada Lili. Como é imaculadamente preta, ela também atende, com aquela alegria quase patética típica dos cães, à alcunha de Nêga. Aliás, não era sobre isso que eu ia falar-lhes hoje, mas não posso perder a oportunidade de questioná-los sobre se acreditam que os cães sabem mesmo seus nomes ou se apenas atendem à entoação de apelo emitida pelos humanos.
O Homem que Desmorreu
Jornal
November 18, 2006
No Brasil, nação onde acontecem as coisas mais inusitadas, até mesmo surreais, houve há poucos dias um homem que caiu de sua bicicleta e, ao chegar ao hospital, teve diagnosticado um coágulo no cérebro e foi dado como morto. Já o levavam a caminho da morgue quando tossiu, momento dramático que evidenciou que de falecido o homem não tinha nada, embora seus irmãos já lhe estivessem a preparar o velório.
Hoje Só Tenho Perguntas
Jornal
November 11, 2006
Bem, ainda estou de viagem e, depois de Portugal, vem o Brasil, aquela terra fascinante em aconteceres fantasmagóricos e coisas inexplicáveis que convivem com os eventos mundanos como se ao mundo pertencessem, como é o caso do homem que desmorreu, ou das CPIs que terminam em nada, ou das reeleições históricas enquanto confusas. A velocidade com que as coisas ocorrem por aqui é qualquer coisa de estonteante. Vale a pena passar uma temporada no Brasil somente para conhecer o incompreensível de perto, e tentar ainda aprender com o povo brasileiro como é que se faz para manter uma certa coesão mental apesar das loucuras que são ora protagonizadas, ora observadas por cada cidadão.
Ai, Saudade...
Jornal
October 21, 2006
Ai, Saudade...
Estou a fazer Portugal de lés a lés e eis que aprendo por primeira vez como é linda esta terra, que frescores revela aos que a querem íntima, sendo copiosa em rios, árvores generosas, nobres iguarias para alegrar os estômagos navegantes. E é também boa a sua gente, de ricos sotaques, de visões de mundo peculiares tanto se estreitas quanto se vastas, e com ambas é fácil instruir-se seja em Lisboa, seja em Aljustrel.
Cuidado com o Mil!
Jornal
August 19, 2006
Vocês já devem ter reparado, assim como eu, que Luanda está disposta a crescer, ou melhor, a crescer, não, a estourar. Aliás, não sei se disposta é a palavra certa, acho que nem há palavra certa para o que está a ocorrer. Todas as regras e bons costumes relativos às dificuldades da vida numa grande metrópole estão sendo quebrados impiedosamente por esta pequena aldeia. Já não há hora para a hora do rush, por exemplo. Andar de carro na cidade é agora uma afronta, que só perde para andar a pé – altamente perigoso. Se bem que estão a consertar os passeios, mas estes estão mais dedicados aos carros do que aos peões, pois não há estacionamentos. A solução é ficar preso no trânsito por no mínimo meia a hora mais do que o que seria óbvio, o que causa atrasos ainda maiores aos já pouco pontuais kaluanda.
O Nomeador
Jornal
August 5, 2006
Quem será que dá nome aos remédios? Certamente não é lá uma pessoa muito musical, e além disso parece seguir um código interno da Farmacologia que diria que o nome não pode deixar transparecer as propriedades do medicamento. Sabe-se ainda que alguma parte do princípio activo, para agravamento da situação, está às vezes presente na composição do nome, mas isso não melhora nada, pois os princípios activos são praticamente impronunciáveis. Aliás, deveriam existir sem precisar ser referidos.
Terrorismos
Jornal
July 22, 2006
Outra coisa extremamente singular no mundo dos e-mails é o novo tipo de terrorismo que veio com os eles: não, não estou falando dos vírus, mas daquelas correntes que dizem que, se você não mandá-las imediatamente para 15 pessoas, algo terrível vai lhe acontecer, como um acidente de automóvel, falência ou a perda de entes queridos. Como comprovação, vários descrições de exemplos de casos infelizes, feitas pelo próprio autor. Ou seja, já não basta mais contar com as ameaças reais do nosso quotidiano, agora temos que aturar também ameaças virtuais!
Emagreça a Dormir
Jornal
July 8, 2006
Não sei vocês, mas eu recebo diariamente na minha caixa de mensagens electrónicas uma média de 4 e-mails do tipo spam com o assunto “emagreça a dormir”. Do alto dos meus 51 quilos distribuídos em 1,67 m de ser humano, soa especialmente engraçado. Mas essas mensagens me fazem lembrar a época do “aprenda inglês a dormir”, lembram-se? É anterior à internet, e o processo, apesar de aldrabão, demonstrava pelo menos alguma engenhosidade: a pessoa adquiriria noções da língua inglesa subliminarmente ao escutar as gravações em cassetes durante o sono. Era prático, porque não precisaria dispor do seu precioso tempo de vigília para se dedicar a estudar. Quando entrasse em contacto com a língua, já acordado, faria uma espécie de “reconhecimento” automático dos termos apreendidos nas noites anteriores.
Valores Subvertidos
Jornal
July 1, 2006
Circulou pela net há umas semanas um artigo singular: uma carta de uma mãe brasileira dirigida a outra, esta tendo aparecido nos noticiários a reclamar por melhores condições para seu filho, detido no órgão público que recolhe menores marginais, a FEBEM. A primeira mãe, autora da carta, solidarizava-se com a segunda, dizendo entender suas dores pois também era mãe. Mas revelava-se no final como a progenitora do rapaz que foi morto pelo filho da outra num assalto. Escrevia aquela carta para chamar a atenção sobre o apoio moral que a sociedade, em especial os mídia, dava à mãe do marginal, marginalizando com isso a mãe da vítima ao deixá-la de lado. A frase de encerramento do e-mail dizia: Direitos Humanos São para Humanos Direitos.
Meu Mundial Ideal
Jornal
June 24, 2006
Todas as atenções estão voltadas para o Mundial, basta abrir os olhos ou ouvidos para perceber isso claramente. É bonito ver que o mundo inteiro pode se mobilizar em torno de uma causa comum, mesmo quando ela tem por objectivo a competição, o “que vença o melhor”. Aliás, é até comovente, nem parece que aqueles ali somos nós mesmos. Onde andará nosso espírito belicista, fomentado por aquela imparável ganância que vem nos levando para frente sem nos tirar de trás? Quanto mesmo custou a reforma do estádio de Munique, 250 milhões de euros? Du-zen-tos-e-cin-quen-ta-mi-lhões, nem que fosse de zimbos, já era de impressionar qualquer um. Como é que um desporto cujo objectivo é meter uma bolinha - que pode até ser de papel – numa rede chamada golo chega a esse ponto da história económica mundial?
Calendários
Jornal
May 27, 2006
Curiosamente, na volta de minha viagem conversei com um angolano ex-morador do Brasil que se espantava em não ver carros importados de alto luxo, nas cidades brasileiras; surpreendia-se, na verdade, em ver uma classe média tão mediana em posses, saberes e aspirações. Assombrava-se, por fim, por o brasileiro não cobiçar ardentemente a riqueza – não por não querê-la, mas por jamais poder alcançá-la. Tal observação nos traz de volta a um tema nosso: Brasil e Angola, análogos no abismo social entre ricos e pobres, díspares no acesso à opulência.